Como é o tratamento da depressão com a Cannabis medicinal?

Em 2017, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que a depressão afeta mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo, emergindo como uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo. Além disso, ela está associada a um risco aumentado de mortalidade por todas as causas e a uma expectativa de vida reduzida.

A causa ainda é discutida, porém sabe-se que ela é multifatorial, englobando aspectos genéticos, alterações nos níveis de neurotransmissores, disfunções neuroendócrinas, além de fatores ambientais e sociais.

Existe um impacto significativo na sociedade, afetando não apenas a qualidade de vida das pessoas, mas também a economia em geral. Os indivíduos com depressão frequentemente enfrentam dificuldades no trabalho, transformando as relações empregatícias em algo difícil para o paciente. 

 

O que é a depressão?

A depressão, ou o Transtorno Depressivo Maior (TDM) é um transtorno psiquiátrico caracterizado por humor deprimido ou anedonia, termo que significa a incapacidade em sentir prazer em atividades normais do dia a dia. Os sintomas, geralmente, acompanham a desregulação do sono e da alimentação, alterações psicomotoras, sentimento de culpa e, em casos mais graves, pensamentos que podem colocar a vida em risco.

Para que os sintomas sejam considerados como indicativos de depressão, eles geralmente precisam persistir por pelo menos duas semanas. Isso significa que as mudanças no humor, no apetite, no sono e no interesse pelas atividades diárias devem ser evidentes e constantes ao longo desse período. Se esses sinais se mantiverem por esse tempo, é importante buscar ajuda profissional para uma avaliação mais detalhada e um suporte adequado.

Em 75% dos casos de depressão há múltiplos ciclos de remissão e exacerbação. Os principais distúrbios sintomáticos na depressão ocorrem nos reinos emocional, motivacional, cognitivo e neurovegetativo. Os distúrbios emocionais típicos na depressão incluem humor deprimido, frequentemente associado a sentimentos de culpa, baixa autoestima e inutilidade, e alta ansiedade. 

 

Como funciona o tratamento para a depressão?

O tratamento normalmente combina psicoterapia e medicamentos. A psicoterapia, como a terapia cognitivo-comportamental, ajuda a pessoa a entender e lidar com seus pensamentos e comportamentos. Os medicamentos, geralmente antidepressivos, ajudam a regular os neurotransmissores no cérebro, melhorando o humor e os sintomas depressivos.

Apesar da disponibilidade de muitos anti depressivos clinicamente eficazes, existem muitos desafios em relação ao tratamento ideal da depressão. Por exemplo, os antidepressivos levam várias semanas (4 a 6 semanas) para promover efeitos significativos de melhora do humor, e cerca de 40–45% dos pacientes podem não responder ao tratamento.

Recentemente, a pesquisa tem explorado o uso de canabidiol (CBD), um composto da Cannabis, como uma alternativa ou complemento aos tratamentos tradicionais. Estudos indicam que o CBD pode atuar em sistemas de neurotransmissores e oferecer benefícios antidepressivos.  O canabidiol (CBD) é um componente importante da Cannabis sativa com um amplo espectro de ações farmacológicas benéficas em transtornos psiquiátricos, incluindo propriedades ansiolíticas, antipsicóticas, neuroprotetoras e antidepressivas. 

 

Como a Cannabis pode atuar no tratamento da depressão?

A Cannabis, especialmente o canabidiol (CBD), pode fazer parte do tratamento da depressão. De acordo com o estudo de Silote et al. (2019), publicado na Revista de Neuroanatomia Química, o CBD tem demonstrado efeitos antidepressivos, possivelmente através dos receptores de serotonina.

Este estudo sugere que o CBD pode modular o sistema endocanabinoide e interagir com neurotransmissores relevantes para o humor e o estresse. Além disso, o estudo de Sales et al. (2018), publicado na Revista de Neuro-Psicofarmacologia e Psiquiatria Biológica, encontrou que o efeito antidepressivo do CBD é dependente dos níveis de serotonina no cérebro, indicando que o CBD atua principalmente através dos receptores para melhorar os sintomas depressivos.

A terapia canabinoide pode ajudar a controlar outros sintomas que frequentemente acompanham a doença, como insônia, dor crônica e ansiedade. Os medicamentos à base de Cannabis tem mostrado potencial para melhorar a qualidade do sono, aliviar a dor e reduzir a ansiedade, oferecendo assim um suporte adicional no manejo da depressão.

 

Sistema endocanabinoide e a depressão

O sistema endocanabinoide é uma rede complexa de receptores, endocanabinoides e enzimas que regula muitas funções fisiológicas para manter o equilíbrio interno do corpo, conhecido como homeostase. Este sistema atua em áreas do cérebro que controlam o humor, a dor, o sono e a resposta ao estresse.

A interação dos fitocanabinoides com os receptores endocanabinoides podem ajudar a restaurar o equilíbrio em situações de disfunção, como na depressão, ajustando a resposta do organismo a estressores e aliviando sintomas associados, promovendo uma sensação geral de bem-estar e estabilidade.

Essa capacidade de modular múltiplos aspectos do bem-estar torna a cannabis uma opção valiosa no tratamento abrangente da depressão. Embora os resultados sejam promissores, mais pesquisas são necessárias para entender completamente os  mecanismos do CBD no tratamento da depressão.

 

Para além do CBD: como outros canabinoides podem auxiliar no tratamento da depressão?

Outros fitocanabinoides presentes na Cannabis também têm sido estudados por seu potencial impacto na depressão. Conforme o estudo de El-Alfy et al. (2010), o tetraidrocanabinol (THC) demonstrou efeitos antidepressivos significativos em modelos animais, possivelmente através da interação com os receptores CB1 no cérebro, que estão envolvidos na regulação do humor e da percepção da dor. Além disso, o canabicromeno (CBC) também tem mostrado potencial antidepressivo, conforme relatado pelo mesmo estudo, onde o CBC reduziu comportamentos semelhantes à depressão em testes com animais. Esses fitocanabinoides oferecem uma abordagem complementar ao uso de CBD, ampliando as opções para pacientes em busca de alternativas aos tratamentos convencionais para a depressão.

A compreensão da fisiopatologia do transtorno depressivo maior cresceu nos últimos anos, mas nenhum modelo ou mecanismo único pode explicar satisfatoriamente todos os aspectos da doença. Diferentes causas ou fisiopatologias podem estar por trás de episódios em diferentes pacientes, ou mesmo episódios diferentes no mesmo paciente em momentos diferentes. Estressores psicossociais e estressores biológicos (por exemplo, período pós-parto) podem resultar em diferentes patogêneses e responder preferencialmente a diferentes intervenções.

 

Novas pesquisas e o tratamento com Cannabis Medicinal

Apesar dos estudos já publicados, as pesquisas relacionadas ao tratamento com a Cannabis Medicinal na saúde dos pacientes ainda continuam, pois ainda há muitas perguntas a serem respondidas. É importante ressaltar que o tratamento com Cannabis não trata todas as condições clínicas, porém, com base nos estudos científicos, a terapia canabinóide pode ser atualmente uma excelente alternativa para pacientes que sofrem com alguma patologia e que não respondem bem aos tratamentos convencionais.

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Referências:  

  1. Gorzalka, B. B., & Hill, M. N. (2011). Putative role of endocannabinoid signaling in the etiology of depression and actions of antidepressants. Progress in neuro-psychopharmacology & biological psychiatry, 35(7), 1575–1585. https://doi.org/10.1016/j.pnpbp.2010.11.021
  2. Silote, G. P., Sartim, A., Sales, A., Eskelund, A., Guimarães, F. S., Wegener, G., & Joca, S. (2019). Emerging evidence for the antidepressant effect of cannabidiol and the underlying molecular mechanisms. Journal of chemical neuroanatomy, 98, 104–116. https://doi.org/10.1016/j.jchemneu.2019.04.006
  3. Sales, A. J., Crestani, C. C., Guimarães, F. S., & Joca, S. R. L. (2018). Antidepressant-like effect induced by Cannabidiol is dependent on brain serotonin levels. Progress in neuro-psychopharmacology & biological psychiatry, 86, 255–261. https://doi.org/10.1016/j.pnpbp.2018.06.002
  4. Malhi, G. S., & Mann, J. J. (2018). Depression. Lancet (London, England), 392(10161), 2299–2312. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)31948-2
  5. El-Alfy, A. T., Ivey, K., Robinson, K., Ahmed, S., Radwan, M., Slade, D., Khan, I., ElSohly, M., & Ross, S. (2010). Antidepressant-like effect of delta9-tetrahydrocannabinol and other cannabinoids isolated from Cannabis sativa L. Pharmacology, biochemistry, and behavior, 95(4), 434–442. https://doi.org/10.1016/j.pbb.2010.03.004 

 

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