Atualmente, o uso da planta Cannabis sativa para fins medicinais já é uma realidade, apesar de ainda existir muito preconceito. A Cannabis Medicinal é uma opção terapêutica valiosa que pode auxiliar em diferentes patologias e tem ajudado muitas pessoas nas últimas décadas.
Cannabis Medicinal: primeiros registros na Ásia
A Cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha, é uma planta milenar, na qual há registros do seu cultivo há mais de 10 mil anos a.C. O primeiro registro medicinal relatado da planta ocorreu na China há 2.737 anos a.C, em que o imperador Shen-Nung escreveu em seu tratado médico o uso do chá de Cannabis para o tratamento de dores articulares, malária e memória fraca.
Ao passar dos anos, a popularidade medicinal da Cannabis se espalhou pela Ásia, Oriente Médio e África. Na Índia, os hindus preparavam um chá à base de Cannabis, chamado de Bhang, que era utilizado para fins religiosos. Na medicina indiana milenar, o Ayurveda, a planta era utilizada com o fim de trazer o equilíbrio entre corpo, mente e espírito. Nos anos 70, o médico Pedânio Dioscórides, considerado o fundador da farmacologia, descreveu o uso medicinal da maconha na sua obra “De Matéria Médica” para o tratamento de dores articulares e inflamações. O primeiro relato do uso da Cannabis para epilepsia foi no Oriente Médio, por volta do ano de 1400, em Bagdá.
A vinda da Cannabis para o Ocidente
No Brasil, a maconha foi trazida através dos escravos africanos, durante o período colonial (1808), no qual se espalhou entre os índios e brancos. Sua popularidade chegou até a Coroa e o chá de maconha era consumido pela rainha Carlota Joaquina, que se habituou a tomar para melhorar suas cólicas menstruais.
De volta à Europa, ainda no século XIX, o médico britânico William Brooke O´Shaughnessy, que passou um tempo estudando medicina na Índia, levou os conhecimentos medicinais sobre a maconha para a Europa. Um dia em sua casa, uma mulher bateu em sua porta e relatou que sua filha, um bebê de alguns meses, estava tendo crises convulsivas contínuas. O médico tentou vários tratamentos tradicionais que conhecia, incluindo o ópio e sanguessugas, mas as crises não melhoravam. O bebê parou de se alimentar e começou a perder peso, devido às constantes crises epilépticas. Assim, não sabendo mais o que utilizar como tratamento, tentou a tintura canábica que ainda era comercializada entre as farmácias locais. Apenas algumas gotas dessa tintura e as crises cessaram de forma rápida. E relatou no artigo do jornal médico intitulado “Sobre a preparação de Indian Hemp ou Gunjah” que: “A criança agora está em gozo de saúde robusta e recuperou o gordo natural e aparência feliz”.
Ainda no século XIX, a revista The Lancet, uma das principais revistas médicas do mundo, publicou no artigo PhD. EA Birch, que a Cannabis sativa era um potente auxiliar no tratamento de dependência ao ópio, diminuindo a vontade de consumir o ópio e reduzindo as náuseas e vômitos (potencial antiemético). E assim, a Cannabis se consolidou como medicamento nos EUA e na Europa.
No início do século 20, a Cannabis começou a ser utilizada de forma recreativa pelos árabes, chineses, mexicanos, e afrodescendentes que eram discriminados socialmente pela elite. Assim, o uso da Cannabis começou a sofrer um preconceito moralista, social e religioso, além de ter sido um concorrente poderoso da indústria do álcool. Ainda no ano de 1905, cigarrilhas de maconha eram vendidas aqui no Brasil para o tratamento de asma, catarros e insônia, já que o uso medicinal da Cannabis era uma realidade na Europa.
O século XX e o início da proibição
Porém, a partir de 1920 propagou-se no mundo inteiro que o uso da maconha era um mal, de modo que muitas pessoas importantes da política e da saúde juntaram forças para retirá-la do mercado e proibir seu uso, tanto medicinal como recreativo. Por volta de 1960, a ONU (Organização das Nações Unidas) afirmou que a planta era ruim para a saúde e bem-estar da humanidade, de modo que tomou ações necessárias para a repressão de seu uso. Essa proibição favoreceu a indústria bélica e deu início a guerra às drogas.
Apesar de toda proibição, na Universidade Hebraica de Jerusalém, o Professor Doutor Raphael Mechoulam, conseguiu isolar o canabidiol (CBD) em 1963 e no ano seguinte o Δ9-Tetrahidrocanabinol (Δ9-THC),os dois principais fitocanabinoides encontrados na planta da Cannabis sativa. No Brasil, o Professor Doutor Elisaldo Carlini da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), publicou no renomado periódico científico internacional J ClinPharmacol [1981 Aug-Sep;21(8-9 Suppl):417S-427S, um estudo sobre o efeito benéfico do CBD no controle de crises convulsivas.
Com o avanço das pesquisas e a descoberta dos receptores canabinoides na década de 90, o sistema endocanabinoide começa a ser elucidado pela ciência. Com essa descoberta, inúmeras pesquisas se debruçaram em pesquisar mais sobre esse sistema e qual o papel dele em nosso organismo. Hoje, já se sabe que os receptores canabinoides podem ser encontrados em diferentes células do organismo, desempenhando diferentes mecanismos para manter o nosso corpo em equilíbrio.
A partir dos relatos de casos, o tratamento com a Cannabis começou novamente a ser difundido pelo mundo, como os casos de Charlotte Figi e Anny Fisher, ambas crianças de 5 anos portadoras de quadros de epilepsia refratária, que tiveram sucesso em suas histórias com o uso do óleo de Cannabis, rico em CBD para o controle das crises convulsivas. O documentário ILEGAL conta a história de Anny Fisher e a luta de mães para o tratamento de seus filhos com a Cannabis Medicinal.
Acesso ao tratamento com Cannabis medicinal nos dias atuais
A luta pelo uso da Cannabis Medicinal ainda existe em alguns países, pois o seu uso e plantio continuam proibidos em diversas regiões. No Brasil, as RDCs 327/2019 e 660/2022 da Anvisa autorizam o uso de medicamentos à base de Cannabis via importação ou compra direta em farmácias. A Cannabis pode auxiliar inúmeros tipos de doenças, como: epilepsia, autismo, TDHA, câncer, dor crônica (fibromialgia, enxaqueca, dor neuropática), dores musculares, depressão, ansiedade, doenças autoimunes, doenças neurodegenerativas (Alzheimer e Parkinson), esclerose múltipla, artrite, artrose, dentre outras.
No Brasil, a Cannabis é uma substância controlada, ou seja, só é vendida sob prescrição médica. Por isso, para iniciar seu tratamento, o primeiro passo é agendar uma consulta com um profissional habilitado à prescrição. Na plataforma da Cannafy, você consegue agendar sua consulta presencial ou via telemedicina de maneira rápida e totalmente on-line.
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MMarinaDezembro 2023Muito interessante! Parabéns pelo excelente artigo.